terça-feira, 11 de julho de 2017

O Amor e as Diferenças

Autor: Leopoldo Napoleão Ben-Leon

    Em 1960, Hayfan com 20 anos, de origem palestina, saiu de sua terra natal para percorrer o mundo. Conheceu vários países da Europa como Espanha, França, Inglaterra, e outros, sobrevivendo como mascate, passando certas dificuldades, até que chegou à América do Sul e foi para a Argentina, onde fixou moradia na capital Federal de Buenos Aires. A opção profissional que ele fez foi a mesma que fazia em outros países da Europa, tornando-se novamente mascate. Já no ano de 1965,  com 25 anos,  ele puxando em um carro de mão com duas rodas, transitava vendendo seus produtos lençóis, fronhas, e cobertores pelas periferias de Buenos Aires. A situação financeira dele estava melhorando cada vez mais.  Ao passar oferecendo seus produtos às pessoas em uma das  ruas, bateu na porta de uma casa e foi atendido por uma senhora loura de olhos azuis de aproximadamente 40 anos 1,70 m de altura e uma moça também  de olhos azuis  com altura aproximada de 1,75 m. Hayfan como um bom vendedor, educadamente se dirigiu à senhora e a moça oferecendo seus produtos. Logo as duas notaram que ele não era argentino, pois falava espanhol com forte sotaque árabe. A senhora no mesmo instante conversou com sua filha aos cochichos e ambas viraram as costas e adentraram em sua casa. Hayfan ficou perplexo pela atitude das duas e encucado com o desrespeito à sua pessoa, mas tocando a vida foi vendendo suas mercadorias a outros fregueses. Uns quinze dias depois, ele passou na mesma rua onde morava aquela senhora de olhos azuis e aquela moça. Perguntou a um morador dali quem eram a moça e a referida senhora, aí este morador disse-lhe que residia há pouco tempo ali e que não as conhecia. Aí ele ficou curioso em conhecê-las principalmente a moça que lhe chamou a atenção por ser muito bonita. Uma semana depois ele passou novamente naquela rua e parou debaixo de uma árvore que ficava defronte a casa e logo a moça saiu e passou por Hayfan e ele falou: BOM DIA SENHORITA! Ela um pouco fechada lhe respondeu: BOM DIA. E nisso ficou, somente nisso. Ele também tocou sua vida normalmente sempre trabalhando. Dias depois ele encontra a moça novamente em uma rua próxima a casa dela, e mais uma vez a cumprimenta: - Estás lembrada de mim? Ela olhou e lhe disse: - Tu és aquele rapaz que passaste em minha residência um tempo atrás vendendo algumas produtos e dias depois me cumprimentaste dando um bom dia?  Aí começaram a conversar, uma conversa rápida e objetiva. Ele perguntou o nome dela. Ela falou: - Meu nome é Rachel. Ele se apresentou e disse: – Meu nome é Hayfan. Ela com olhar meigo e com sorriso estampado no rosto disse: – Eu sabia que tu eras de origem árabe pela tua feição e sotaque e agora pelo nome. Ele perguntou a ela: Qual tua origem? Ela disse a ele: sou de origem judaica de ascendência húngara nascida na Argentina em Buenos Aires. Ele levou um grande espanto que seu coração disparou. Eles despediram-se e se foram.  Logo, os dias se decorreram e Hayfan se dando bem nos negócios, ficou conhecido por vender produtos de qualidade e de preço accessível à população da periferia de Buenos Aires. Sempre que podia passava naquela rua onde Rachel morava. Um belo dia de sol encontrou Rachel, aquela belíssima moça de olhos azuis, cabelos louros e cor branca, saindo de sua residência, ele esperou um pouco sem que ela o visse e se aproximou chamando-a pelo nome: - Rachel, Rachel . Ela virou-se a ele e disse: - Olá como vai? E começaram a conversar. Ele pediu o número do telefone de sua residência. Rachel disse a Hayfan: - Vou lhe dar o número do telefone de minha casa, mas se quiseres me telefonar, faça-o às cinco horas da tarde, pois neste horário meus pais não estão em casa, depois disso, eles chegam, se atenderem ao telefone terei problemas. Passaram-se os dias e Hayfan telefonou naquela hora marcada, foi quando Rachel correu para o telefone e atendeu. Ao ouvir a voz de Rachel, Hayfan sentiu que ela estava feliz e começaram a conversar. Conversa vai e vem foi quando Hayfan convidou Rachel para se encontrarem em um bar no centro de Buenos Aires na Rua Florida. Marcaram e se encontraram numa terça feira por volta das 15 horas. Conversaram e conversaram, quando se deram por conta já era 17:30 horas. Rachel ficou encantada com Hayfan pela sua conversação e por ser tão jovem e ter fartos conhecimentos pelas suas andanças ao redor do mundo. Hayfan de aparência bonita, de 1:85 m de altura de olhos castanhos claros, chamou muito a atenção de Rachel. Logo Hayfan e Rachel se despediram e marcaram outro encontro, no mesmo local para dias depois. Os dois foram para rumos diferentes. Hayfan saiu dali felicíssimo com os olhos brilhantes. E Rachel também estava bastante feliz.  No dia certo do encontro marcado, dia bastante frio, com temperatura de 9 graus, por volta de 17:00 horas, Hayfan pegou sua melhor roupa, aquela calça azul escura de lã e uma camisa de cor branca, um paletó de lã cinza escuro, e uma bela gravata de tom cinza com riscos brancos, e foi ao encontro de Rachel. Ela, aquela moça de olhos azuis, loura, branca de 1:75 m de altura, era de chamar atenção de qualquer pessoa principalmente de Hayfan. Naquele dia esmerou no seu figurino, usando sapato de cor preta salto alto, meia fina,  um vestido de cor branca, um paletó cinturado de lã cor preta. E logo de longe Hayfan avistou Rachel aquela judia belíssima de 20 anos que vinha a seu encontro, e daí sentaram-se no bar e puseram-se a conversar. Assunto vai assunto vem, surgiu o primeiro beijo, iniciando assim o namoro, escondido dos pais de Rachel.  Os dias se passaram e Rachel e Hayfan estavam apaixonados, um pelo outro. Com o tempo os pais de Rachel notaram que ela estava mudando seu comportamento, saia mais vezes, mas mal eles sabiam o que estava acontecendo com sua filha Rachel. Ela demonstrava felicidade nos olhos. Já se passavam três meses de namoro. E os pais de Rachel perguntaram a ela porque tanta felicidade? E porque também estava saindo tanto de casa? Amanhã conversarei com o senhor papai e com a senhora mamãe... No dia seguinte, Rachel sentou-se com seus pais à mesa da copa e começaram a conversar coisas do dia a dia, mas Rachel com o coração acelerado estava com muito receio de comentar o tal namoro com seus pais. Mesmo assim se encorajou e disse: - Papai e mamãe eu os amo demais, mas sei que vou contrariá-los. Eu vou contar o que meu coração está pedindo, porque não quero enganá-los mais. Mãe a senhora se lembra que a aproximadamente cinco ou seis meses atrás passou um rapaz em nossa porta vendendo uns produtos e nós vimos que ele falava espanhol com forte sotaque árabe. A mãe de Rachel disse: - Me lembro sim, nós até viramos as costas pra ele, entramos em casa e não demos conversa. Rachel disse: - Pois é mãe eu sei que eu vou entristecê-la e também ao papai. Eu estou namorando com ele e nós estamos apaixonados um pelo outro. Rebecca e Benjamim ficaram com os olhos arregalados e Rebecca disse para a filha: - Tu estás louca, namorar com árabe se nós somos judeus? Rachel disse: - Papai e Mamãe, o importante para mim é o caráter e a dignidade do homem e isto, ele tem. Daí em diante os pais de Rachel ficaram perplexos com a atitude de sua filha. Disseram que não queriam conhecer Hayfan e que era para ela terminar esse namoro com urgência. Ela chorando correu para o quarto se trancou e por horas ficou. Quando voltou do quarto com os olhos inchados de tanto chorar, os pais de Rachel simplesmente a ignoraram. A partir daquele dia, não falaram mais sobre o assunto. Como Hayfan já estava inteirado dos fatos, pois Rachel tinha lhe contado, eles começaram a se encontrar mais vezes, sempre às escondidas. Certo dia Hayfan tomou uma atitude juntamente com Rachel, iriam viver juntos. Dias depois, eles arrumaram as suas malas e se encontraram com hora marcada na rodoviária de Buenos Aires e daí em diante foram para a cidade de Córdoba, onde se identificaram com nomes diversos dos verdadeiros, tendo em vista que sabiam que seriam procurados pela comunidade judaica. Lá procuraram uma pensão para se instalarem e Hayfan continuou trabalhando como mascate, vendendo seus produtos nas ruas. Após algum tempo mudaram para uma casa simples na periferia de Córdoba, daí então começaram a crescer economicamente. Os pais de Rachel desesperados pelo sumiço de sua filha procuraram a comunidade judaica na cidade de Buenos Ayres, após contarem todos os fatos e descreverem a pessoa de Hayfan noticiaram a fuga. O rabino Daniel tomou todas as providências para a busca do casal. Procuraram por toda a Argentina, mas não encontraram. Os anos passaram. Em 1984, Rachel já mãe de dois filhos de Hayfan, de nomes Lya e Davi, resolveu juntamente com Hayfan voltar a Buenos Ayres para ir ao encontro de seus pais. O casal Hayfan e Rachel com seus filhos Lya de 5 anos e Davi de  3 anos, muito receosos, mas esperançosos em serem bem recebidos e entendidos por Rebecca e Benjamim, chegaram saudosos na mesma casa não sabendo se ali a família ainda residia, bateram palmas   e de repente a porta se abriu e a mãe de Rachel com  um sorriso foi de encontro à filha dizendo: Que bom que tu estás aqui! Se abraçaram e começaram a chorar. Logo veio Benjamim, o pai de Rachel, um pouco sorridente ao mesmo tempo fechado cumprimentou a filha abraçando-a  e as lágrimas escorreram sobre a face de todos. Daí em diante, Rachel apresentou sua nova família aos pais dizendo: Pai e Mãe este é meu esposo Hayfan e meus dois filhos Lya e Davi que Deus me deu. Daí então Benjamim e Rebecca abraçaram os netos afetuosamente e também cumprimentaram e abraçaram Hayfan o genro, Convidaram todos a entrarem em sua casa dizendo: - Bem-vindos. Logo após se sentaram à mesa e ali foi servidos a todos, chá com torradas e começaram a conversar. Os pais ouviram Hayfan falar sobre suas conquistas profissionais com o devido sucesso, vez que já havia adquirido com muita luta e determinação uma casa própria e duas lojas bem localizadas no centro de Córdoba onde Hayfan e Rachel comercializavam confecções infantis. Os pais de Rachel ficaram felizes pelo sucesso do genro e da filha e ainda por ter dado a eles netos lindos e saudáveis, perdoaram os dois pelo que fizeram e disseram a eles, que as diferenças acabariam naquele momento. A família Hayfan ficou hospedada na casa dos sogros por alguns dias e depois retornaram a Córdoba, dando a sequência a sua vida. Os anos se passaram Hayfan e Rachel foram galgando cada vez mais sucesso na vida empresarial adquirindo imóveis e colocando mais lojas na cidade de Córdoba, mas não esquecendo de manter contato permanente com os pais de Rachel, sendo que estes também visitavam frequentemente a família Hayfan. Em 1995, Hayfan já afastado de sua família há tanto tempo, resolveu levar a esposa e filhos para conhecer seus pais que moravam na Palestina. Lá chegando foram recebidos, filho, nora e netos com grande festa. O senhor Mamede pai de Hayfan e sua mãe Samara, ficaram muito felizes com a nova família que se integrava a deles. Inicialmente foi servido a eles pão sírio e vinho, como demonstração de felicitações e depois assaram carneiro entre outras comidas típicas árabes. Convidaram todos os parentes e amigos para a festa de boas vindas. Os agora avós abraçavam fortemente os netos Lya e Davi e também o filho Hayfan e a nora Rachel. Mamede e sua esposa levaram Hayfan e família para conhecerem toda a Palestina e até mesmo o outro lado Israelense apesar da cultura diferenciada. Alguns dias depois a família Hayfan muito feliz volta a Córdoba na Argentina. Retornaram às suas atividades sempre com muito sucesso. Os anos foram passando, aquelas crianças que eram crianças passaram a ser adultos. Os pais de Rachel já idosos, continuaram muito carinhosos com os netos Lya e Davi que agora adultos, cursando faculdade de medicina e direito, se orgulhavam deles e mantinham visitas permanentemente. Lya se formou médica aos 25 anos e Davi advogado aos 23 anos, orgulhos dos pais Hayfann e Rachel e avós maternos Benjamim e Rebecca bem como dos avós paternos Mamede e Samara. Os anos se passaram Hayfan foi chamado com urgência para ir a Palestina ver seu pai que não estava bem de saúde. Ao chegar lá, ficou entristecido ao ver seu pai Mamede hospitalizado e alguns dias depois veio a falecer. Hayfan muito triste conversando com sua mãe já de idade avançada perguntou a ela se ela queria morar com ele em Córdoba/Argentina. Ela por sua vez respondeu que não, pois ficaria na Palestina porque ali era seu lugar e ali iria morrer. Hayfan retornou a Argentina e continuou a sua vida. Dois anos após a morte de seu pai perdeu também sua mãe. Restava na Palestina irmãos, tios e primos. Com o tempo o Pai de Rachel, Benjamim, também veio a falecer. Daí Rachel junto Hayfan trouxeram para Córdoba, Rebecca mãe de Rachel que foi viver confortavelmente em uma casa, com uma bela varanda, grandes quartos e salas de visita e de estar e linda biblioteca, desfrutando já aos 80 anos de idade do conforto merecido. E hoje a família Hayfan vive feliz com todos os seus componentes.

Assim temos que as diferenças de povos não devem influenciar nas relações, mesmo porque o que vale é o caráter e dignidade de cada pessoa e o amor que nasce entre elas.

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