Autor: Leopoldo Napoleão de Leon
Em 1960, Hayfan com 20 anos, de origem palestina, saiu de sua
terra natal para percorrer o mundo. Conheceu vários países da Europa como
Espanha, França, Inglaterra, e outros, sobrevivendo como mascate, passando
certas dificuldades, até que chegou à América do Sul e foi para a Argentina,
onde fixou moradia na capital Federal de Buenos Aires. A opção profissional que ele fez foi
a mesma que fazia em outros países da Europa, tornando-se novamente mascate. Já
no ano de 1965, com 25 anos, ele puxando em um carro de mão com duas
rodas, transitava vendendo seus produtos lençóis, fronhas, e cobertores pelas
periferias de Buenos Aires. A situação financeira dele estava melhorando
cada vez mais. Ao passar oferecendo seus
produtos às pessoas em uma das ruas,
bateu na porta de uma casa e foi atendido por uma senhora loura de olhos azuis de
aproximadamente 40 anos 1,70 m de altura e uma moça também de olhos azuis com altura aproximada de 1,75 m. Hayfan como
um bom vendedor, educadamente se dirigiu à senhora e a moça oferecendo seus
produtos. Logo as duas notaram que ele não era argentino, pois falava espanhol
com forte sotaque árabe. A senhora no mesmo instante conversou com sua filha aos cochichos e
ambas viraram as costas e adentraram em sua casa. Hayfan ficou perplexo pela
atitude das duas e encucado com o desrespeito à sua pessoa, mas
tocando a vida foi vendendo suas mercadorias a outros fregueses. Uns quinze
dias depois, ele passou na mesma rua onde morava aquela senhora de olhos azuis
e aquela moça. Perguntou a um morador dali quem eram a moça e a referida senhora, aí este morador disse-lhe que residia há pouco
tempo ali e que não as conhecia. Aí ele ficou curioso em conhecê-las
principalmente a moça que lhe chamou a atenção por ser muito bonita. Uma semana
depois ele passou novamente naquela rua e parou debaixo de uma árvore que
ficava defronte a casa e logo a moça saiu e passou por Hayfan e ele falou: BOM
DIA SENHORITA! Ela um pouco fechada lhe respondeu: BOM DIA. E nisso ficou, somente
nisso. Ele também tocou sua vida normalmente sempre trabalhando. Dias depois
ele encontra a moça novamente em uma rua próxima a casa dela, e mais uma vez a
cumprimenta: - Estás lembrada de mim? Ela olhou e lhe disse: - Tu és aquele rapaz
que passaste em minha residência um tempo atrás vendendo algumas produtos e dias depois
me cumprimentaste dando um bom dia? Aí
começaram a conversar, uma conversa rápida e objetiva. Ele perguntou o nome
dela. Ela falou: - Meu nome é Rachel. Ele se apresentou e disse: – Meu nome é
Hayfan. Ela com olhar meigo e com sorriso estampado no rosto disse: – Eu sabia
que tu eras de origem árabe pela tua feição e sotaque e agora pelo nome. Ele
perguntou a ela: Qual tua origem? Ela disse a ele: sou de origem judaica de
ascendência húngara nascida na Argentina em Buenos Aires. Ele levou um grande
espanto que seu coração disparou. Eles despediram-se e se foram. Logo, os dias se decorreram e Hayfan se dando
bem nos negócios, ficou conhecido por vender produtos de qualidade e de preço
accessível à população da periferia de Buenos Aires. Sempre que podia passava
naquela rua onde Rachel morava. Um belo dia de sol encontrou Rachel, aquela
belíssima moça de olhos azuis, cabelos louros e cor branca, saindo de sua
residência, ele esperou um pouco sem que ela o visse e se aproximou chamando-a
pelo nome: - Rachel, Rachel . Ela virou-se a ele e disse: - Olá como vai? E
começaram a conversar. Ele pediu o número do telefone de sua residência. Rachel disse a Hayfan: - Vou lhe dar o número do telefone de minha casa,
mas se quiseres me telefonar, faça-o às cinco horas da tarde, pois neste horário
meus pais não estão em casa, depois disso, eles chegam, se atenderem ao
telefone terei problemas. Passaram-se os dias e Hayfan telefonou naquela hora
marcada, foi quando Rachel correu para o telefone e atendeu. Ao ouvir a voz de Rachel, Hayfan sentiu que ela estava feliz e começaram a conversar.
Conversa vai e vem foi quando Hayfan convidou Rachel para se encontrarem em um
bar no centro de Buenos Aires na Rua Florida. Marcaram e se encontraram numa
terça feira por volta das 15 horas. Conversaram e conversaram, quando se deram
por conta já era 17:30 horas. Rachel ficou encantada com Hayfan pela sua
conversação e por ser tão jovem e ter fartos conhecimentos pelas suas andanças
ao redor do mundo. Hayfan de aparência bonita, de 1:85 m de altura de olhos
castanhos claros, chamou muito a atenção de Rachel. Logo Hayfan e Rachel se
despediram e marcaram outro encontro, no mesmo local para dias depois. Os dois
foram para rumos diferentes. Hayfan saiu dali felicíssimo com os olhos
brilhantes. E Rachel também estava bastante feliz. No dia certo do encontro marcado, dia
bastante frio, com temperatura de 9 graus, por volta de 17:00 horas, Hayfan pegou sua melhor roupa, aquela calça azul escura de lã e uma camisa de cor
branca, um paletó de lã cinza escuro, e uma bela gravata de tom cinza com
riscos brancos, e foi ao encontro de Rachel. Ela, aquela moça de olhos azuis,
loura, branca de 1:75 m de altura, era de chamar atenção de qualquer pessoa
principalmente de Hayfan. Naquele dia esmerou no seu figurino, usando sapato
de cor preta salto alto, meia fina, um
vestido de cor branca, um paletó cinturado de lã cor preta. E logo de longe
Hayfan avistou Rachel aquela judia belíssima de 20 anos que vinha a seu encontro, e daí
sentaram-se no bar e puseram-se a conversar. Assunto vai assunto vem, surgiu o
primeiro beijo, iniciando assim o namoro, escondido dos pais de Rachel. Os dias se passaram e Rachel e Hayfan estavam apaixonados, um pelo outro. Com o tempo os pais de Rachel notaram que
ela estava mudando seu comportamento, saia mais vezes, mas mal eles sabiam o
que estava acontecendo com sua filha Rachel. Ela demonstrava felicidade nos
olhos. Já se passavam três meses de namoro. E os pais de Rachel perguntaram a
ela porque tanta felicidade? E porque também estava saindo tanto de casa?
Amanhã conversarei com o senhor papai e com a senhora mamãe... No dia seguinte,
Rachel sentou-se com seus pais à mesa da copa e começaram a conversar coisas
do dia a dia, mas Rachel com o coração acelerado estava com muito receio de
comentar o tal namoro com seus pais. Mesmo assim se encorajou e disse: -
Papai e mamãe eu os amo demais, mas sei que vou contrariá-los. Eu
vou contar o que meu coração está pedindo, porque não quero enganá-los mais. Mãe
a senhora se lembra que a aproximadamente cinco ou seis meses atrás passou um
rapaz em nossa porta vendendo uns produtos e nós vimos que ele falava espanhol
com forte sotaque árabe. A mãe de Rachel disse: - Me lembro sim, nós até
viramos as costas pra ele, entramos em casa e não demos conversa. Rachel disse:
- Pois é mãe eu sei que eu vou entristecê-la e também ao papai. Eu estou
namorando com ele e nós estamos apaixonados um pelo outro. Rebecca e Benjamim ficaram com os olhos arregalados e Rebecca disse para a filha: - Tu estás louca,
namorar com árabe se nós somos judeus? Rachel disse: - Papai e Mamãe, o
importante para mim é o caráter e a dignidade do homem e isto, ele tem. Daí em
diante os pais de Rachel ficaram perplexos com a atitude de sua filha. Disseram
que não queriam conhecer Hayfan e que era para ela terminar esse namoro com urgência. Ela
chorando correu para o quarto se trancou e por horas ficou. Quando voltou do
quarto com os olhos inchados de tanto chorar, os pais de Rachel simplesmente a
ignoraram. A partir daquele dia, não falaram mais sobre o assunto. Como Hayfan
já estava inteirado dos fatos, pois Rachel tinha lhe contado, eles começaram a
se encontrar mais vezes, sempre às escondidas. Certo dia Hayfan tomou uma
atitude juntamente com Rachel, iriam viver juntos. Dias depois, eles arrumaram
as suas malas e se encontraram com hora marcada na rodoviária de Buenos Aires e
daí em diante foram para a cidade de Córdoba, onde se identificaram com nomes diversos dos verdadeiros, tendo em vista que sabiam que seriam procurados pela comunidade judaica. Lá procuraram uma pensão para se instalarem e Hayfan continuou trabalhando como mascate, vendendo seus produtos nas ruas. Após algum tempo mudaram para uma casa simples na periferia de Córdoba, daí então começaram a crescer economicamente. Os pais de Rachel desesperados pelo sumiço de sua filha
procuraram a comunidade judaica na cidade de Buenos Ayres, após contarem todos
os fatos e descreverem a pessoa de Hayfan noticiaram a fuga. O rabino Daniel tomou
todas as providências para a busca do casal. Procuraram por toda a Argentina,
mas não encontraram. Os anos passaram. Em 1984, Rachel já mãe de dois filhos de
Hayfan, de nomes Lya e Davi, resolveu juntamente com Hayfan voltar a Buenos
Ayres para ir ao encontro de seus pais. O casal Hayfan e Rachel com seus filhos Lya
de 5 anos e Davi de 3 anos, muito
receosos, mas esperançosos em serem bem recebidos e entendidos por Rebecca e
Benjamim, chegaram saudosos na mesma casa não sabendo se ali a família ainda
residia, bateram palmas e de
repente a porta se abriu e a mãe de Rachel com um sorriso foi de encontro à filha dizendo: Que bom que tu estás aqui! Se abraçaram e começaram a chorar. Logo veio
Benjamim, o pai de Rachel, um pouco sorridente ao mesmo tempo fechado
cumprimentou a filha abraçando-a e as
lágrimas escorreram sobre a face de todos. Daí em diante, Rachel apresentou sua
nova família aos pais dizendo: Pai e Mãe este é meu esposo Hayfan e meus dois
filhos Lya e Davi que Deus me deu. Daí então Benjamim e Rebecca abraçaram os
netos afetuosamente e também cumprimentaram e abraçaram Hayfan o genro,
Convidaram todos a entrarem em sua casa dizendo: - Bem-vindos. Logo após se
sentaram à mesa e ali foi servidos a todos, chá com torradas e começaram a
conversar. Os pais ouviram Hayfan falar sobre suas conquistas profissionais
com o devido sucesso, vez que já havia adquirido com muita luta e determinação
uma casa própria e duas lojas bem localizadas no centro de Córdoba onde Hayfan e Rachel comercializavam confecções infantis. Os pais de Rachel ficaram felizes
pelo sucesso do genro e da filha e ainda por ter dado a eles netos lindos e
saudáveis, perdoaram os dois pelo que fizeram e disseram a eles, que as
diferenças acabariam naquele momento. A família Hayfan ficou
hospedada na casa dos sogros por alguns dias e depois retornaram a Córdoba, dando a sequência a sua vida. Os anos se passaram Hayfan e Rachel foram
galgando cada vez mais sucesso na vida empresarial adquirindo imóveis e
colocando mais lojas na cidade de Córdoba, mas não esquecendo de manter contato
permanente com os pais de Rachel, sendo que estes também visitavam
frequentemente a família Hayfan. Em 1995, Hayfan já afastado de sua família há
tanto tempo, resolveu levar a esposa e filhos para conhecer seus pais que moravam na Palestina. Lá chegando foram recebidos, filho, nora e netos com
grande festa. O senhor Mamede pai de Hayfan e sua mãe Samara, ficaram muito
felizes com a nova família que se integrava a deles. Inicialmente foi servido a
eles pão sírio e vinho, como demonstração de felicitações e depois assaram
carneiro entre outras comidas típicas árabes. Convidaram todos os parentes e
amigos para a festa de boas vindas. Os agora avós abraçavam fortemente os netos
Lya e Davi e também o filho Hayfan e a nora Rachel. Mamede e sua esposa
levaram Hayfan e família para conhecerem toda a Palestina e até mesmo o
outro lado Israelense apesar da cultura diferenciada. Alguns dias depois a
família Hayfan muito feliz volta a Córdoba na Argentina. Retornaram às suas
atividades sempre com muito sucesso. Os anos foram passando, aquelas crianças
que eram crianças passaram a ser adultos. Os pais de Rachel já idosos,
continuaram muito carinhosos com os netos Lya e Davi que agora adultos,
cursando faculdade de medicina e direito, se orgulhavam deles e mantinham visitas
permanentemente. Lya se formou médica aos 25 anos e Davi advogado aos 23 anos, orgulhos dos pais
Hayfann e Rachel e avós maternos Benjamim e Rebecca bem como dos avós paternos
Mamede e Samara. Os anos se passaram Hayfan foi chamado com urgência para ir a
Palestina ver seu pai que não estava bem de saúde. Ao chegar lá, ficou entristecido
ao ver seu pai Mamede hospitalizado e alguns dias depois veio a falecer.
Hayfan muito triste conversando com sua mãe já de idade avançada perguntou a
ela se ela queria morar com ele em Córdoba/Argentina. Ela por sua vez respondeu que
não, pois ficaria na Palestina porque ali era seu lugar e ali iria morrer.
Hayfan retornou a Argentina e continuou a sua vida. Dois anos após a morte de
seu pai perdeu também sua mãe. Restava na Palestina irmãos, tios e primos. Com
o tempo o Pai de Rachel, Benjamim, também veio a falecer. Daí Rachel junto Hayfan trouxeram para Córdoba, Rebecca mãe de Rachel que foi viver confortavelmente em
uma casa, com uma bela varanda, grandes quartos e salas de visita e de estar e linda biblioteca, desfrutando já aos 80 anos de idade do
conforto merecido. E hoje a família Hayfan vive feliz com todos os seus
componentes.
Assim temos que as diferenças de povos não devem influenciar
nas relações, mesmo porque o que vale é o caráter e dignidade de cada pessoa e
o amor que nasce entre elas.
Bela história, que mostra que as relações HUMANAS devem prevalecer sobre etnias, credos, classes sociais, etc. Parabéns!
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